quinta-feira, janeiro 16, 2014

Carta de Picasso a Giovanni Papini





















"Pablo Picasso, Nature Morte, 1924" 

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Tomei conhecimento deste documento, diante do qual não vejo muita necessidade de me manifestar. Ele se auto-explica: 

"Desde o instante em que a arte deixa de ser o alimento para as melhores mentes, o artista pode usar todos os truques do charlatão intelectual. Hoje em dia, a maioria das pessoas não espera mais receber consolo ou exaltação da arte." 
"Os ‘refinados’, os ricos, os ociosos profissionais, os destiladores de quintessências buscam o que é novo, estranho, extravagante, escandaloso na arte. Eu mesmo, desde o cubismo e além dele, contentei esses mestres e esses críticos com todas as bizarrices mutáveis que me passaram pela cabeça." 

"E quanto menos eles me compreendiam, mais eles me admiravam." 

"À força de me divertir com todas essas brincadeiras, com todos esses quebra-cabeças, enigmas, e arabescos, eu fiquei célebre, e muito rapidamente. E a celebridade para um pintor significa vendas, lucros, fortuna, riqueza. E hoje, como o senhor sabe, eu sou famoso, eu sou rico." 

"Mas, quando estou sozinho comigo mesmo, não tenho a coragem de me considerar um artista no sentido antigo e grande da palavra. Giotto, Ticiano, Rembrandt e Goya foram grandes pintores: eu sou apenas um divertidor do público – um charlatão." 

"Compreendi o tempo em que eu vivi e explorei a imbecilidade, a vaidade, a avidez de meus contemporâneos. É uma amarga confissão a minha, e mais dolorosa do que parece. Mas ela tem o mérito de ser sincera".

Publicada por Giovanni Papini em 1952, em seu Libro "Nero".
 
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CHIPP, Herschel Browning. "Teoria da Arte Moderna". São Paulo, Martins Fontes, 1993. (Coleção A)