sábado, novembro 05, 2011
Eugenio Montale II
tocava a vossa mão no teclado,
ia lendo na folha o vosso olhar;
os sinais impossíveis; e era quebrado
cada acorde como voz de pesar.
Entendi que tudo, à volta, se enternecia
em ver-vos tolhida inerme ignara
da linguagem mais vossa: ciciava
pelo vidro encostado a marinha clara.
Passou no espaço azul uma fugaz dança
de borboletas; uma fronte se agitou no sol.
Nenhuma coisa próxima achava as suas palavras,
e era minha, era nossa, a vossa doce ignorância.
Eugenio Montale
Ossos de Sépia (1920-1927)
Tradução. Renato Xavier