terça-feira, maio 15, 2012

Poemas de Antonio Gamoneda



















I

O grande vento da noite
entra, lento, nos trigais.

Deixa a tua mão na minha
que são as nossas núpcias.

Tomo-te porque a minha pena
tem a cor dos teus olhos;

porque o meu pão é moreno
como a tua carne.



Antonio Gamoneda
'La tierra e los labios'
1947 - 1953
Tradução. João Moita


II

Escostei meus lábios em tuas mãos e tua pele tinha a suavidade
dos sonhos.

Algo semelhante a eternidade roçou um instante meus lábios.

'Cecília'
1998-2004
Tradução. Jacineide Travassos


III

É seu gemido corporal, é sua respiração nas habitações
côncavas.

Quanta doçura pesa em teus lábios ainda, agonizantes!

'Livro do frio'
1986-1992 e 2000
Tradução. Jacineide Travassos