Quando vem a taciturna e poda as tulipas:
Quem sai ganhando?
Quem aparece na janela?
Quem diz primeiro o nome dela?
É alguém que carrega meus cabelos.
Carrega-os como quem carrega mortos nos braços.
Carrega-os como o céu carregou meus cabelos no ano em
[que amei.
Carrega-os assim por vaidade.
E ganha.
E não diz o nome dela.
É alguém que tem meus olhos.
Tem-nos desde quando portas se fecham.
Carrega-os no dedo, como anéis.
Carrega-os como cacos de desejo e safira:
era já meu irmão no outono;
conta já os dias e noites.
E ganha.
E não perde.E diz por último o nome dela.
É alguém que tem o que eu disse.
Carrega-o debaixo do braço como um embrulho.
Carrega-o como o relógio a sua pior hora.
Carrega-o de limiar a limiar, não o joga fora.
E não ganha. E perde.
E diz primeiro o nome dela.
E é podado com as tulipas.
Tradução: Claudia Cavalcanti
*
Paul Celan, filho de
judeus de língua alemã, enaltecido como um dos maiores poetas do pós guerra,
carregou e registrou em sua obra a marca do terror nazista. A desolação pela
perda dos pais, mortos em um campo de extermínio do qual fugiria, trouxe até nós
um texto denso, vigoroso e envolto em silêncio e dor.