segunda-feira, fevereiro 20, 2012

Bodas de Sangue - Lorca





“Não posso ouvir você. Não posso ouvir sua voz. É como se eu bebesse uma garrafa de anis e dormisse numa colcha de rosas. E me arrasta, e sei que me afogo, mas vou atrás”.

(Noiva para Leonardo)


"Porque eu fui com o outro, eu fui! Você também teria ido. Eu era uma mulher abrasada, cheia de chagas por dentro e por fora, e seu filho era um pouquinho de água de quem eu esperava filhos, terra, saúde; mas o outro era um rio escuro, cheio de ramos, que me trazia o rumor de seus juncos e seu cantar entre dentes. E eu corria com seu filho, que era como um menino de água fria, e o outro me mandava centenas de pássaros que me impediam de andar e que derramavam geada nas minhas feridas de pobre mulher consumida, de moça acariciada, pelo fogo. Eu não queria, está ouvindo? Eu não queria. Seu filho era meu fim e eu não o enganei, mas o braço do outro me arrastou como a maré, como a cabeçada de um touro, e teria me arrastado sempre, sempre, mesmo que eu fosse velha e todos os filhos de seu filho me puxassem pelos cabelos!"

(Noiva para Sogra)

Garcia Lorca
'Bodas de Sangue'
Editorial Losada
Tradução. Jacineide Travassos