Se o poema não serve para dar o nome às coisas
outro nome e ao
seu silêncio outro silêncio,
se não serve para
abrir o dia
em duas metades
como dois dias resplandecentes
e para dizer o
que cada um quer e precisa
ou o que a si
mesmo nunca disse.
entrem nele como
numa ampla esplanada
e se sentem a
conversar longamente com um copo de vinho na mão
sobre as raízes
do tempo ou o sabor da coragem
ou como tarda a
chegar o tempo frio.
Se o poema não serve
para tirar o sono a um canalha
ou ajudar a
dormir o inocente
se é inútil para
o desejo e o assombro,
para a memória e
para o esquecimento.
Se o poema não
serve para tornar quem o lê
num fanático
que o poeta então
se cale.
António Ramos
Rosa
O Poeta na Rua
Quasi Edições