NUMA VEEMENTE SEARA PLENA
Transfigura-se o
sol tardio e o pesado tempo
Num jardim
infinito de lágrimas de Deus,
De lágrimas de
todos os seres e todas as coisas,
E um pássaro
transcendente desce e poisa
Sobre a minha
alma morta, ministrando-lhe
Uma secreta luz
obscura, irmã do amor de todos os mortos,
Cantando como
crianças eternas correndo infinitamente
Pela folha aberta
do tempo, desmedida habitação
Onde a febre e a
dor poderão dar lugar ao sonho
De todo o visível
e invisível numa veemente seara plena.
DOEM-ME ESTES
POEMAS
Doem-me estes
poemas tão pobres, tão humildes.
Eles são a minha
mais pura alegria na casa
Da dor e do
absurdo, e trazem sempre consigo
Todas as
namoradas que perdi quando caí
Por lodosos abismos,
pelos quais tento
Transpor-me.
Planto aqui um malmequer minúsculo.
Para que cresça
em direcção ao Sol, fecundando
Todos os poemas
com a seiva do milagre
Da vida, para que
desabrochem sempre
Com autenticidade
e amor por tudo.
Fernando Manuel
Botto Correia Semedo nasceu em Lisboa, freguesia de S. Sebastião da Pedreira,
no dia 18 de Junho de 1955. É licenciado em História (1981), pela Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa. Membro da Associação Portuguesa de Escritores
(APE). Ao longo de 27 anos publicou individualmente 33 livros, desde «Agoas
Livres» (1982) até «Sangue em Flor» (2009). O Autor foi objecto de crítica
literária por parte de João Gaspar Simões, António Cândido Franco, E.M. de
Mello e Castro, Maria Estela Guedes, João Rui de Sousa, Pinharanda Gomes, e
José Augusto Mourão, entre outros.