quinta-feira, abril 19, 2012

Dois Poemas de Fernando Botto Semedo



















NUMA VEEMENTE SEARA PLENA  

Transfigura-se o sol tardio e o pesado tempo
Num jardim infinito de lágrimas de Deus,
De lágrimas de todos os seres e todas as coisas,
E um pássaro transcendente desce e poisa
Sobre a minha alma morta, ministrando-lhe
Uma secreta luz obscura, irmã do amor de todos os mortos,
Cantando como crianças eternas correndo infinitamente
Pela folha aberta do tempo, desmedida habitação
Onde a febre e a dor poderão dar lugar ao sonho
De todo o visível e invisível numa veemente seara plena.

  

DOEM-ME ESTES POEMAS
 
Doem-me estes poemas tão pobres, tão humildes.
Eles são a minha mais pura alegria na casa
Da dor e do absurdo, e trazem sempre consigo
Todas as namoradas que perdi quando caí
Por lodosos abismos, pelos quais tento
Transpor-me. Planto aqui um malmequer minúsculo.
Para que cresça em direcção ao Sol, fecundando
Todos os poemas com a seiva do milagre
Da vida, para que desabrochem sempre
Com autenticidade e amor por tudo.


*


Fernando Manuel Botto Correia Semedo nasceu em Lisboa, freguesia de S. Sebastião da Pedreira, no dia 18 de Junho de 1955. É licenciado em História (1981), pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Membro da Associação Portuguesa de Escritores (APE). Ao longo de 27 anos publicou individualmente 33 livros, desde «Agoas Livres» (1982) até «Sangue em Flor» (2009). O Autor foi objecto de crítica literária por parte de João Gaspar Simões, António Cândido Franco, E.M. de Mello e Castro, Maria Estela Guedes, João Rui de Sousa, Pinharanda Gomes, e José Augusto Mourão, entre outros.