domingo, janeiro 22, 2012

Os Contos de Hoffmann - Offenbach




Na França, Jaques Offenbach fez da opereta uma forma popular de diversão e suas obras fizeram enorme sucesso. As melhores delas são: Orphé au Enfers (1858), La Belle Heléne (1866), La Périchole (1868) e seu mais ambicioso trabalho: Os Contos de Hoffmann (1881). Nesta um herói trágico (Hoffmann), distinto das personagens frívolas da opereta, procura sem nunca encontrar sua musa, a mulher perfeita. Esta não passa da “promessa de um rosto” como na poesia de Baudelaire. Por suas peculiaridades temáticas e musicais, contrariamente ao que afirmam os críticos, julgamos que esta obra está muito mais para a ópera propriamente dita que para a opereta que cumpria a função social primeira de comicidade, diversão.
Na Alemanha, o movimento mais local da Bauhaus - especialmente com os arquitetos Walter Gropius e Mies Van Der Roche - desenvolveu uma estética moderna antiperspectiva, mecanicista, geométrica, anti-realista, para todas as artes plásticas e também para o teatro, sua influência apareceu na ópera alemã. os membros da Bauhaus gostaram em particular de Os Contos de Hoffmann  de Offenbach , principalmente por causa da grande diversidade de cenários existentes em suas cinco cenas e as imensas possibilidades que elas permitiam. Os cenários da Bauhaus contribuíram com uma nova,  moderna, anti-realista cenografia para a ópera em geral.
No que concerne à relação da ópera com o teatro, assinala Tranchefort que, a partir de Maria Callas, os cantores aprenderam que são também atores trágicos, que sabiam representar uma comédia. Através de um Wieland Wagner, um Felsenstein, Visconti, Strehler, Lavelli, Romponi, Chéraud ­– entre outros – têm convencido o amante de teatro que vale a pena ir à ópera. John Schelesinger também pode e deve constar – com Os Contos de Hoffmann – na lista dos bons diretores. Nesta ópera os cantores, principalmente Luciana Serra (Olympia), dão um “show” de interpretação, vocalismo e encenação. Até Plácido Domingos – quase sempre canastrão – porta-se bem representando Hoffmann. A mise-en-scène, a disposição dos elementos que compõem o cenário é perfeita.
Hoffmann, personagem central da ópera de Offenbach , tem existência real. Trata-se de E. T. A. Hoffmann (1776 – 1822), autor romântico que veio da fronteira eslava (é como Hamann, Herder e Werner, natural da Prússia oriental). Chamava-se Ernest Theodor Wilhelm, mas mudou o terceiro nome  para Amadeus em homenagem a Wolfgang Amadeus Mozart. Hoffmann tinha estudado música e foi compositor de certa importância (música sacra, a ópera Undine). Sua primeira fonte foi o romance gótico inglês. O  elemento musical inspira muitos contos da coleção Die Serapionsbrueder (Os Irmãos Serapião). Música e humorismo juntos chegam ao auge na extraordinária novela Prinzessim Brambilla na qual aparecem as máscaras da Comédia dell’arte e fantasias de costumes. Baudelaire chamou essa novela de “meu breviário de estética”. Segundo Carpeaux , para Hoffmann, o sobrenatural e natural torna-se enfim natural e comum (humorismo fantástico), enquanto a realidade da vida cotidiana torna-se sinistra e assombrosa.
Diz Otto Maria Carpeaux que a influência de Hoffmann foi imensa, podem-se citar todos os novelistas franceses, de Nerval a Balzac até Maupassant (Le Horla); Poe e Baudelaire; Púchckin, Gógol e Dostoiévski, Bécker, Karen Blixen. Os escritores russos de 1920 que chamavam seu clube de  Os Irmãos Serapião; Lovekraft, em nossos dias, e Kafka. Mas foi maior sua influência musical. Seu Kroiler determinou o estilo de Schumann, Berlioz, Brahms e Malher. Seus contos forneceram libretos   a compositores como Wagner, Busoni, Tchaikovsky e Hindemith. A belíssima barcarola acima integra a ópera Os Contos de Hoffmann de Offenbach.