Na França, Jaques Offenbach fez da
opereta uma forma popular de diversão e suas obras fizeram enorme sucesso.
As melhores delas são: Orphé au Enfers (1858), La Belle Heléne (1866), La
Périchole (1868) e seu mais ambicioso trabalho: Os Contos de Hoffmann (1881).
Nesta um herói trágico
(Hoffmann), distinto das personagens frívolas da opereta, procura sem nunca
encontrar sua musa, a mulher perfeita. Esta não passa da “promessa de um
rosto” como na poesia de Baudelaire. Por suas peculiaridades temáticas e
musicais, contrariamente ao que afirmam os críticos, julgamos que esta obra
está muito mais para a ópera propriamente dita que para a opereta que cumpria a
função social primeira de comicidade, diversão.
Na Alemanha, o movimento mais
local da Bauhaus - especialmente com os arquitetos Walter Gropius e Mies Van Der
Roche - desenvolveu uma estética moderna antiperspectiva, mecanicista,
geométrica, anti-realista, para todas as artes plásticas e também para o
teatro, sua influência apareceu na ópera alemã. os membros da Bauhaus gostaram
em particular de Os Contos de Hoffmann
de Offenbach , principalmente por causa da grande diversidade de
cenários existentes em suas cinco cenas e as imensas possibilidades que elas
permitiam. Os cenários da Bauhaus contribuíram com uma nova, moderna, anti-realista cenografia para a
ópera em geral.
No que concerne à relação da
ópera com o teatro, assinala Tranchefort que, a partir de Maria Callas, os
cantores aprenderam que são também atores trágicos, que sabiam representar uma
comédia. Através de um Wieland Wagner, um Felsenstein, Visconti, Strehler,
Lavelli, Romponi, Chéraud – entre outros – têm convencido o amante de teatro
que vale a pena ir à ópera. John Schelesinger também pode e deve constar – com
Os Contos de Hoffmann – na lista dos bons diretores. Nesta ópera os cantores,
principalmente Luciana Serra (Olympia), dão um “show” de interpretação, vocalismo
e encenação. Até Plácido Domingos – quase sempre canastrão – porta-se bem
representando Hoffmann. A mise-en-scène, a disposição dos elementos que compõem
o cenário é perfeita.
Hoffmann, personagem central da
ópera de Offenbach , tem existência real. Trata-se de E. T. A. Hoffmann (1776 –
1822), autor romântico que veio da fronteira eslava (é
como Hamann, Herder e Werner, natural da Prússia oriental). Chamava-se Ernest
Theodor Wilhelm, mas mudou o terceiro nome
para Amadeus em homenagem a Wolfgang Amadeus Mozart. Hoffmann tinha
estudado música e foi compositor de certa importância (música sacra, a ópera
Undine). Sua primeira fonte foi o romance gótico inglês. O elemento musical inspira muitos contos da
coleção Die Serapionsbrueder (Os Irmãos Serapião). Música e humorismo juntos
chegam ao auge na extraordinária novela Prinzessim Brambilla na qual aparecem as máscaras da Comédia dell’arte e fantasias de
costumes. Baudelaire chamou essa novela de “meu breviário de estética”. Segundo
Carpeaux , para Hoffmann, o sobrenatural e natural torna-se enfim natural e
comum (humorismo fantástico), enquanto a realidade da vida cotidiana torna-se sinistra
e assombrosa.
Diz Otto Maria Carpeaux que a
influência de Hoffmann foi imensa, podem-se citar todos os novelistas
franceses, de Nerval a Balzac até Maupassant (Le Horla); Poe e Baudelaire;
Púchckin, Gógol e Dostoiévski, Bécker, Karen Blixen. Os escritores russos de
1920 que chamavam seu clube de Os Irmãos
Serapião; Lovekraft, em nossos dias, e Kafka. Mas foi maior sua influência
musical. Seu Kroiler determinou o estilo de Schumann, Berlioz, Brahms e
Malher. Seus contos forneceram libretos
a compositores como Wagner, Busoni, Tchaikovsky e Hindemith. A belíssima
barcarola acima integra a ópera Os Contos de Hoffmann de Offenbach.