sexta-feira, novembro 25, 2011

Do Mundo

Odilon Redon


*

Pus-me a saber: estou branca sobre uma arte
fluxa e refluxa:
a lua nasce da roupa fria, sai-me a cabeça
das zonas da limalha,
dos buracos fortes da água.
Diz ela. Reluzo como um carneiro,
pêlo aos anéis no mármore vivo, ou redemoinhando a estrela.
tranço ramas de sal e de enxofre.
Diz a criança: a tontura amarela das luzes quando abro para o vento,
quando ao longo da noite que me percorre,
aqui abrasada a gramática,
aqui está o meu nome posto em uso.
As coisas pensam todas ao mesmo tempo.
Os animais, o seu clima de ouro.
Diz.
Com a lepra na boca, a lepra que não me deixa falar.
Água das madres pelo umbiguo, a lua exalta-me o nome,
para que eu cresça, à sua volta, para que eu possa
um dia
morrer dele, inundada, lustral.
É uma arte louca.

*

[Herberto Helder. Fragmento]