quarta-feira, outubro 19, 2011
Traduzindo Leopoldo María Panero - I
TEORIA DO PLÁGIO
a Lautréamont
"Ah a bandeira, a bandeira da carne que sangra"
(Arthur Rimbaud)
A bandeira da carne que sangra
no limite puro onde sangra o universo
tendo por bandeira o nada
que desfaz o sangue e o rosto
por onde passa uma carruagem
açoitada pela chuva que não existe.
***
As sereias nadam em torno do meu cérebro
e cantam por Ulisses, já morto e ausente
quem sabe quem urinou na parede do fundo
e para quem o grito de um cão é esterco.
***
O desejo mancha o verso
onde mora a carne putrefata de uma mulher
que é todo o poema
oferecido ao nada
que não perdoa.
***
Cortei uma rosa, e outra rosa
e o sangue entoou um belo hino
que o nada cortara, convertendo-a
na mais sangrenta rosa.
***
Como o vento esta larga agonia de minha boca
a que deu origem, como a visão de Diana nua
a contemplação do nada.
***
O feitiço do nada, o feitiço do nunca visto
que destrói as pálpebras
e faz agonizar o olhar
e crucifica meus versos
no alto do monte,
o feitiço do Calvário
onde se mira o sacrifício da poesia.
***
A sombra de um cipreste no frio da alma
ajuda a recordar a vida que não foi
e o espanto profundo de mirar-se as mãos
como se um ainda ser vivo fosse.
***
Purga pus a ferida
como eu que versos faço
entretanto entardece
já cicatriza.
Leopoldo María Panero.
'Once Poemas' (1992)
'Poesía Completa' (1970-2000)
[Tradução. Jacineide Travassos]